"Procura-se um cronista”, li em um jornal rasgado qualquer. O papel estava deteriorado e datava de 2012. Mas o título era legível. Como veio parar ali? Jamais saberei. O que sei é que nada sei, sem ser filosófico. Se procuram um cronista, procuram alguém para fazer Robin sobrepor o Batman e que isso faça sentido! O que desejam é um torcedor do Inter e do Grêmio que ame os dois clubes incondicionalmente. Uma arte da conversação maluca e aberta a amizades, portanto.
O cronista nunca se prende apenas ao seu próprio estilo; adere a outros. Suas opiniões são mascaradas e movem uma catarse para serem compreendidas. Convenhamos, em tempos dessa necessidade desumana pelo pragmatismo, uma quebra com o protocolo vem como um alento, fazendo as pessoas rirem entre tragédias e gostarem de coisas que jamais teriam imaginado.
Quem escreve crônicas, escreve sonhos – delírios, às vezes – considerando a dramaturgia única imposta por suas ideias. Mesmo que não faça sentido em um primeiro momento, o texto prevalecerá como um mosquito insistente no escuro, com seus barulhinhos de asas aterrorizando nossos ouvidos. Essa é a função da palavra: indagar, criar a dúvida, amolar para desenvolver pensamentos. Se o cronista fornecesse a ideia de cara, que graça teria? Tudo que é dado não tem o valor daquilo que é conquistado.
Já me chamaram de prolixo. Depende do foco. Eu mesmo dependo do foco ou do referencial que me aparece. Por vezes, preciso ser objetivo como nunca, passando a informação pura e cristalina. Em outras ocasiões, sou um monótono surfista das águas gélidas do Saara, se é que me entendem. Na verdade, me considerem um emissário do dia a dia, um arauto do corriqueiro não escrito. Falo do que vejo e tudo que vejo é muito peculiar, salvo quando alguma discussão chata acontece. Aí perco toda a minha imaginação.
O conceito de escrever, eu diria, é iludir através de palavras. Mesmo no texto jornalístico mais completo há apenas uma fração da realidade, não a realidade pura. Tudo depende do olhar escrito; como se viu e com que signos a informação se espalhou. Pode-se ter uma manifestação contra o aumento da passagem escolar no Centro de Porto Alegre sem que ninguém tenha agredido ninguém, diferente do que certas mídias divulgaram. A observação, portanto, requer uma pessoalidade que é muito individual de cada um.
Mesmo no cotidiano essa situação se configura. O cronista, por mais louco que seja, deve fazer sentido desafiando a mente de seus leitores. Não é uma tarefa fácil e requer muita habilidade na produção dos sinais que serão enviados. Mas com muito trabalho e leitura fica fácil; você consegue, quem sabe, escrever um grande texto – não um texto grande – em minutos. Os conceitos e as prosas vão saindo tão facilmente que você nota que nasceu para fazer aquilo e ninguém pode lhe tirar isso. Nunca!
Portanto, procuram-se cronistas. O espaço para divagar entre humor e solilóquios de razão está cada vez menor para que loucos do amanhã escrevam balbúrdias do passado. Desperte o tino misterioso e divertido que há em você! Escreva sobre a morte falando da vida. Compre uma cerveja pesada afirmando que ela é fraca como água. Saia do marasmo, pois o mundo é colorido e cheio de oportunidades.
Procuram-se cronistas. O mundo precisa deles!
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