É incrível constatar que, hoje, decorridos 25 anos após o término da ditadura, nós brasileiros, ainda sofremos com a censura. Liberdade de imprensa aqui é só um termo vazio para ludibriar os inocentes.
Um exemplo disso é o Jornal JÁ, um pequeno mensário com tiragem de cinco mil exemplares, e que, após uma denúncia de corrupção por parte da família de um político, foi processado e corre o risco de fechar suas portas.
A matéria denuncia um dos maiores escândalos financeiros do estado envolvendo o irmão do político gaúcho. Trata-se do desvio de 65 milhões de reais da empresa estatal CEEE, dinheiro dos nossos bolsos, o qual deveria retornar através de melhoria e manutenção dos serviços prestados pela empresa.
A reportagem foi premiada em 2001 com os principais troféus de jornalismo do sul do país: o Esso Regional e o ARI, da Associação Riograndense de Imprensa. Porém, a mesma reportagem que trouxe reconhecimento ao jornal rendeu, também, grandes problemas.
Elmar Bones, jornalista responsável pela matéria e diretor do Jornal JÁ foi obrigado a pagar por verdades que ofenderam a família do candidato, provando que o bullying não compensa. Pena, também, não poder dizer o mesmo do crime que nesse caso compensou.
Em agosto deste ano, o jornalista teve suas contas pessoais bloqueadas, enquanto o político 'injustiçado' se preparava para concorrer a um dos mais nobres cargos do país, parecendo uma história de novela escrita de cabeça para baixo.
Essa história, porém, é apenas uma pequena ponta de um gigante iceberg que existe no caminho do Brasil. Quantos casos mais ocorrem e não chegam aos nossos ouvidos, encobertos por interesses políticos ou econômicos? Quantos bilhões do nosso dinheiro já foram para terceiros? E, por fim, como estaria o nosso país hoje com esse dinheiro no seu devido lugar?
A nós jornalistas, não sobra quase mais nada. Perdemos o diploma e, aos poucos, estamos perdendo a voz e também a vez. Que triste exemplo para quem ainda acreditam num Brasil mais justo. Pode-se escrever sobre tudo, menos sobre poderosos e suas aventuras com o dinheiro público. |